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Hexagrama 2. K'un / O Receptivo

 Aceite tudo, assim como a terra recebe tudo o que jogamos nela.


K'un significa o feminino em seu sentido cosmológico, o modo como os atributos femininos ocorrem na natureza. É o princípio gerador da vida, que surge quando se dá o encontro, a relação complementar.


Este hexagrama fala de um espírito disposto a seguir o Poder Superior (O Sábio ou nosso Eu Superior) sem hesitação. A receptividade de que nos fala K'un deve deixar que as coisas aconteçam naturalmente, que sejamos guiados pelo momento, que deixemos os fatos seguirem o seu fluxo, sem interferências. Seguindo nosso caminho, permitindo que os outros partam ou cheguem.


Este hexagrama é um desafio para que aperfeiçoemos a receptividade, sejamos mais humildes e pacientes, como uma boa égua que permite que lhe apontem o caminho a seguir e aceita as cargas colocadas em seu lombo. Do mesmo modo, não devemos nos perturbar tanto com o que acontece no mundo externo. As atitudes alheias não podem ser alvo de nosso julgamento ou sofrimento.


Se as pessoas são desleais ou insensíveis, deixemos que as coisas fluam, sem que nos tornemos vingativos, rudes ou amargos. Não devemos nos guiar pelas mágoas e cair na defensiva, sentindo-nos com o orgulho ferido ou humilhados. Isso nos levaria a uma perda de equilíbrio nada desejável segundo o I Ching. 

É preciso que as pessoas não sejam rotuladas nem vistas como adversárias somente porque cometeram um erro num determinado momento. O coração deve permanecer sempre aberto, receptivo, porque ninguém é incorrigível. Todos podem, em qualquer época, mudar de comportamento. Se pensarmos assim, os outros terão espaço e tempo para que se corrijam, se for o caso. Ao mesmo tempo, estaremos nos poupando de um sofrimento desnecessário.

Texto de Wu Fang.


                                                                  Harmonia!

Hexagrama 1. Ch'ien / O Criativo

                                               

  As Mudanças estão em eterno movimento.  É preciso deixar que elas cheguem.


Para o I Ching, o ser humano situa-se entre o céu e a terra, com um pé em cada um. Este hexagrama, geralmente, quer dizer que estamos ligados demais nas questões externas, como se somente elas constituíssem a nossa realidade. Mas não podemos esquecer que tudo no mundo exterior, na verdade, é ativado por uma realidade superior. Por isso, temos um pé no céu e outro na terra, para não esquecermos as nossas naturezas inferior e superior, ambas presentes em todos nós.

O hexagrama também representa a imagem criativa antes de ela se tornar realidade. Trata-se do potencial criativo oculto em cada situação que vivemos. Esse potencial criativo é a resposta apropriada ao problema vivido no momento. Mas a resposta só pode ser encontrada quando estamos receptivos a ela, com a mente aberta. Se invocarmos o Criativo, poderemos chegar facilmente ao sucesso, à solução do problema que nos preocupa. Essa solução pode surgir de repente, como um desfecho inesperado de um filme.


Entretanto, se tentarmos alcançar a resposta por meio do intelecto, as chances de fracasso são grandes. O Criativo nos diz que, assim como uma semente brota e surge a planta, a imagem criativa que precisamos também pode tomar forma. Assim, surge lentamente a luz da compreensão, que nos permite reagir da maneira adequada aos problemas enfrentados no presente momento.


O processo, porém, requer perseverança. O tempo é o meio que nos levará ao sucesso. Perseverança para o I Ching significa estar com a mente aberta, livre de dúvidas e medos. Não pode haver espaço para a insegurança, as vaidades pessoais e a ansiedade. O intelecto deve ser deixado de lado porque a solução não surgirá de uma elaboração consciente. Ela simplesmente virá. É preciso aceitar a não-ação como parte do processo criativo e, então, com humildade e perseverança, o sucesso virá.


Saúde e Longevidade!

Texto de Wu Fang.

Sabedoria que persiste ao longo do tempo

Não há dúvida de que os ensinamentos contidos no I Ching não fossem de grande valia não teriam sobrevivido há tantos séculos. O mais interessante é que, apesar de seu surgimento datar de cerca de 5 mil anos, as idéias contidas nele continuam válidas. É como se a natureza humana pouco tivesse mudado nesse tempo todo. Os homens continuam precisando de orientação para os mesmos tipos de assunto: sua evolução espiritual, os conflitos interpessoais e a necessidade de encontrar um caminho que lhes satisfaça.

As mudanças tecnológicas não conseguiram aplacar nenhum desses impasses e o homem continua seguindo os ciclos da natureza, como integrante dela que é. No mundo ocidental, a tradução mais conhecida do I Ching é a de Richard Wilhelm, cujo título é O Livro das Mutações. Na introdução, ele afirma: “...é, sem sombra de dúvidas, um dos livros mais importantes da literatura mundial. Sua origem perde-se na antigüidade mítica, tendo ocupado a atenção dos maiores estudiosos Chineses daquele período até nossos dias. Praticamente tudo de mais significativo e relevante ocorrido nestes três milênios de história cultural Chinesa retirou sua inspiração deste livro ou exerceu influência na interpretação de seu texto. Desta forma, pode-se afirmar com segurança que a sabedoria, amadurecida em milhares de anos, tem participado da elaboração do I Ching.”

A filosofia do I Ching diz que “Nada acontece por acaso, este é o princípio da sincronicidade. Os eventos se interligam.” No momento em que alguém se propõe a formular uma pergunta sobre algo que o aflige, uma série de eventos únicos e interligados o guiará de encontro à resposta que mais se adequar à situação. É assim que a consulta ao I Ching funciona. Fazemos uma pergunta e somos literalmente levados até a resposta mais apropriada para o momento que estamos vivendo.

Ao contrário do que os céticos possam pensar não se trata de uma simples coincidência.
O I Ching chama isso de “coincidência significativa”. O que é isso? Quando dois eventos
sem qualquer relação um com o outro ocorrem ao mesmo tempo. É o tal princípio
da sincronicidade. No prefácio à tradução do I Ching de Richard Wilhelm, o psicanalista
Carl Gustav Jung fala sobre isso. Segundo ele, o lançamento das moedas forma um acontecimento sincrônico à nossa busca de orientação no I Ching.

Mas Jung alerta: “Aquele que não aprecia o I Ching não precisa usá-lo, e aquele que é contra não é obrigado a considerá-lo verdadeiro. Que o deixem seguir para o mundo em benefício daqueles que sejam capazes de discernir seu significado.” E para compreender esse significado é preciso saber, antes de tudo, que o I Ching não oferece previsões do futuro nem um estudo do caráter de quem faz a pergunta. Em vez disso, oferece conselhos sobre como conduzir uma determinada situação com sabedoria e, assim, entrar em contato com as forças da natureza e com o que há de mais profundo em nós. Seus conselhos foram preparados com base na observação da natureza.
 
No Ocidente, I Ching é traduzido como O Livro das Mutações. Isso tem uma explicação. Tudo o que envolve processos de mudança é o alvo principal dos ensinamentos do I Ching. Na filosofia desse livro tão antigo, nada jamais é estático, tudo está em constante movimento (mudança). Na vida, como na natureza, nada permanece imutável. Tudo o que existe está nascendo, crescendo, envelhecendo e se transformando. São os ciclos aos quais todos estamos sujeitos. E por isso mesmo devemos ter, acima de tudo, humildade. Se alguém atingiu o apogeu em algo, precisa saber que depois virá a queda. Faz parte da natureza crescer, atingir o ápice e cair. 
 
Dentro dessa filosofia de constantes mutações, existe o momento certo para agir, a maneira correta de fazê-lo e também em que não deve fazer nada, e sim praticar a não-ação (Wu Wei), que na verdade significa aceitar as situações e circunstâncias como são quando não podemos mudá-las. A famosa resignação e aceitação que traz paz e harmonia. Para descobrir qual o caso em questão, é preciso simplesmente treinar a capacidade de observação.


O caminho sugerido pelo I Ching nem sempre é fácil porque, segundo seus ensinamentos, não há como escapar dos problemas. Devemos suportar nossas cargas e agir de acordo com as nossas responsabilidades. Só, então, chegaremos a um acordo com a vida e com tudo o que ela nos traz. Não há atalhos disponíveis, nem remédios milagrosos ou programas de computadores, que possam nos levar ao caminho verdadeiro. Só depende de nós. É ela que nos levará a compreender o ser humano e identificar o momento de agir ou não agir. Podemos começar praticando com uma única pessoa, nós mesmos. Depois, a influência se estenderá à família, aos amigos, aos colegas de trabalho e pode abarcar toda a sociedade.


O caminho que o I Ching recomenda é o mais apropriado para a pessoa sábia. E a sabedoria se baseia na sintonização com a natureza. Não há propósito em se plantar uma semente de verão durante o inverno. Ela não suportará o frio e não crescerá. Há o tempo certo para todas as coisas. Obviamente, temos livre-arbítrio para plantarmos a semente no momento em que bem entendermos, mas nossa escolha está fadada ao fracasso, diz o I Ching. Nós mesmos é que escrevemos nossa história.




Fonte: I Ching - Desvendando os 64 Hexagramas - Editora Escala. I Ching - O Livro das Mutações - Richard Wilhelm -Prefácio de C. G. Jung - Editora Pensamento. O Despertar para o Tao - Liu I-ming - Editora Pensamento.


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