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Livro de Sabedoria




O que Gustavo Alberto Corrêa Pinto disse sobre o uso oracular do Livro das Mutações:


"Aos que estiverem lendo o I Ching pela primeira vez, gostaria de dizer que não se deixem esmorecer diante do que lhes pareça demasiado obscuro. Há de aclarar-se, pois não há noite que dure para sempre. É nesse esforço que se pode aprender a virtude da perseverança, tão enfatizada no Livro das Mutações.

Ao relermos o I Ching, é necessário e recomendável que estejamos atentos ao perigo do que julgamos demasiado claro. Os dias também findam e o destino de todo saber é conduzir-nos ao não-saber. Só nesse cuidado poderemos cultivar a virtude da modéstia, ressaltada no Hexagrama 15. O estudo do I Ching é um trabalho constante, no qual, mais que um acúmulo de conhecimento, se processa uma crescente conscientização do ignorado. Ao primeiro ano de estudo, em geral julgamos que estamos sabendo muito mais do que antes. Ao décimo ano, em geral descobrimos que desconhecemos o livro muito mais do que julgávamos. Ao início do estudo, procuramos o significado do I Ching através dos textos; a seguir, através dos Kua e, finalmente, na própria vida, da qual surgiram os Kua, dos quais surgiram as palavras. O caminho deve reencontrar o ponto de partida e descobrir que no próprio caminhar tudo se modificou".

O que o I Ching nos ensina?









O I Ching tem uma visão de mundo indiscutivelmente realista. Ele não nos induz a pensar erroneamente que o mal - em nós mesmos, nas outras pessoas, no mundo em geral - pode ser eliminado de uma vez por todas. Ele reconhece que todos nós temos em nosso caráter tanto elementos superiores quanto inferiores, e nos ensina a nos deixar conduzir por nossas qualidades superiores, de modo que nossas ações e idéias se libertem das influências inferiores. Ele também nos ensina como reagir a influências inferiores externas, evitando o mal e mantendo o nosso contato com o Tao.

As qualidades que O Livro Das Mutações nos aconselha a incorporar na nossa vida são a simplicidade, a consciência, a aceitação, a adaptabilidade, a compaixão, a moderação, a inocência, a perseverança, a tolerância, a discrição, a devoção à verdade interior, a paciência, a receptividade, o desapego, o equilíbrio e a independência interiores. As qualidades que o I Ching nos exorta a abandonar são o medo, a raiva, o desejo, a arrogância, a agressividade, a ansiedade, a severidade, a dissimulação, a preocupação excessiva com um objeto e com a auto satisfação. O I Ching nos conduzirá pelo Caminho do Homem Superior.

Harmonia e equilíbrio!

Confúcio disse:




"Conselhos honestos irritam os ouvidos".


"Quando se plantam melões, colhem-se melões e, quando se semeia feijão, colhe-se feijão". 





Hexagrama 48. Ching / O Poço



 Não fique preso a convenções. Elas só escurecem a sua visão cósmica.


O I Ching é nossa fonte de verdade e alimento, assim como um meio de ter acesso à Verdade
Universal. Após milhares de anos, o I Ching continua sendo um Poço generoso, tornando a verdade acessível a todos que a procuram e estão dispostos, de fato, a conhecê-la.

A capacidade para entender os seus conselhos, porém, depende do nosso estado mental e espiritual. Perguntas frívolas, por exemplo, só podem render respostas incompreensíveis ou inadequadas. Da mesma forma, quando nosso esforço em ouvir o I Ching é desprovido de entusiasmo e sinceridade, não conseguimos obter nenhuma respostas inteligível. É como se a corda não tivesse chegado ao fundo do Poço. Quando desconfiamos dos conselhos do I Ching ou os ignoramos, também não obtemos nenhum benefício de sua consulta.

Receber este hexagrama significa que não estamos realmente interessados em seguir a instrução do I Ching. Nossa atitude em relação a ele é indiferente ou insensível. O Poço mostrado no hexagrama simboliza também nosso autoconhecimento, o que quer dizer que devemos nos desenvolver, nos empenhar mais em compreender a natureza humana e lidar com ela. Acima de tudo, não devemos ficar fixados nos padrões convencionais de ver o funcionamento das coisas. Somente quando nos libertamos desses padrões convencionais é que poderemos nos relacionar com os outros de forma construtiva. Assim como a água extraída de um Poço é pura e cristalina, também devemos nos apegar ao que é puro e cristalino na nossa natureza, cultivando a sinceridade e a simplicidade. Neste sentido, o hexagrama nos aconselha a nos apegar apenas ao que é essencial e rejeitar o trivial. Ele indica ainda que alguma dúvida está inibindo nosso aprendizado do I Ching. 

Para nos beneficiarmos de seu conselho, é fundamental que estejamos desprovidos de motivos pessoais e egoístas, de idéias preconcebidas e do materialismo. Buscando um ponto de vista mais Cósmico e transcendente.

(Texto elaborado por Wu Fang)

Hexagrama 47. K'un / Opressão (A Exaustão)



Não seja invadido pela descrença ou pelo cansaço.
Expulse-os de você.



Tui sobre K'an - Lago sobre Água

Receber este hexagrama significa que estamos contaminados por idéias incorretas, que estão atuando como obstáculos ao nosso progresso. Acreditamos que o Poder Superior não existe ou duvidamos da sua bondade; desconfiamos de que ele não queira nos ajudar ou que o destino esteja contra nós; achamos que a situação está muito difícil e não temos como lidar com ela.

Tais inverdades fazem com que o alimento ou energia essencial (chamada Chi Chi) pare de fluir. Quando não somos fiéis a nós mesmos, a energia pára de fluir adequadamente.
O resultado pode ser conflito ou depressão. E, se o problema permanecer por mais tempo, acontece o que o hexagrama chama de exaustão física e mental.

O fluxo de energia Chi é interrompido quando alimentamos idéias que vão contra a Verdade Superior. O hexagrama nos orienta justamente a nos libertarmos dessas idéias para que a energia volte a circular livremente. Mas, é preciso saber o que causa a nutrição dessas inverdades. Por que passamos a desacreditar no Poder Superior? Por que perdemos a autoconfiança e a crença na possibilidade de que coisas boas estão disponíveis?

A resposta está em choques emocionais sérios, como a perda de um parente, ou doenças graves, ou ainda, em problemas de relacionamento com as pessoas aonde passamos a sentir muita raiva. É tendência do ser humano reagir a esse tipo de evento traumatizante, questionando seu papel na vida, o sentido da existência e a força do Poder Superior.
Esse questionamento leva à dúvida e ao desespero, à perda da vontade de viver.

Para nos libertarmos dessas falsas idéias e recuperarmos a saúde física, mental e espiritual,
é preciso trazer à tona as inverdades que nos deprimem. Analisando-as cuidadosamente, poderemos anular seus efeitos depressores. Isso ocorre ao nos livrarmos da desconfiança e da impaciência. Precisamos confiar na maneira como as coisas marcham, acreditar que,
no fundo, elas nos beneficiarão.


Texto elaborado por  -  Wu Fang.



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